sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

SOU ASSIM

Nunca fui menina, moça, mulher padronizada
segundo moldes, trivial, adaptada
jamais senti atração pelas coisas restritas
pelas vivências fraquinhas e certinhas.
Rendo-me a amores, a orgasmos avassaladores
com cenas resolvidas com prantos e soluços
que me sufoquem e me tirem a voz, visceralmente.

Aceito da vida o que ela tem de belo e de inferno
e não habito nela para que gostem de mim
mas dela faço parte, para tudo aprender
com consciência plena, cada bocadinho meu.
Aproveito, só, aquilo que me acrescenta
e desprezo, o que me empobrecesse e decresce
pois não aceito comportamentos assim, bom de ver.

Adoro escrever poesia, desventra-la e descara-la
para que vocês sintam o paraíso, o delírio
numa mente polifacetada, que não me obedece
espalhando o que quer e sabe que aquece.
Sou sensual, erótica, intensa e imensa
e guardo no coração um amor, que me exausta
restando-me a escrita como libertação e compensação.

Sendo como eu sou, recuso, sempre, meios termos  
como, pode ser, pois, mais ou menos, talvez
preferindo as fraturas e tripas de fora
ficando eu de rastos, mas sem irrealidades.
É aí que invisto, ajudo, socorro, dou e acredito
porque o sofrimento humaniza e suaviza
não interessando as razões dessas atitudes e alterações.

Agradam-me as coisas exageradas, incontroladas
os olhares faiscantes, libertinos, fuzilantes
os gestos impensados, as palavras loucas e soltas
dizendo não a estradas, mas sim a atalhos.
Acredito em Mindanau, em verdades, profundidades
e tenho medo das latitudes, lonjuras, altitudes
mas não fujo dos abismos, dos seus condicionalismos
pois são eles que me revelam a minha autêntica dimensão.

O que me interessa mesmo, especialmente no amor
é o que ele adiciona ou subtrai de mim
quando a carência, a autossuficiência me prende
e me veste de uma solidão dura, para minorar vazios.
O amor rouba-me essa capacidade intrínseca
tirando-me a armadura que cobre esta fragilidade
julgando que faz de mim o que bem quer
mas sei bem onde quero estar e estou, e por aí, não vou.

Então, larga-me, desprende-me, liberta-me, de vez
pois sei viver sem ti, sem as tuas imposições
que só me espartilham, embaçam e embaraçam.
Sai, para sempre, daqui, estouvado, animal quadrado
que supões ter todas nas tuas garras aguçadas
mas comigo estás enganado, pois eu não sou pautada.
Então, vou dançar e soltar-me, sem liberdade condicionada.


CÉU

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