domingo, 21 de fevereiro de 2016

QUEM SABE LÁ!

Não digas nada, por favor, amor! E aliás, nem precisas falar
pois tenho a certeza absoluta que procuras em mim
o lugar almejado e idílico, o paraíso perdido, qual Adão
mortinho, louco, prontinho a trincar a maçã do pecado
procurando nesse gesto a prometida e ambicionada salvação.

Meu corpo à vela, desamparado, sem mastros, desancorado
transborda em rios, ímpetos de prazer, apto a bolinar
que sei que sentes em ti, como se fosses tu o meu lume
que sei que sinto em mim, como se fosse meu o teu fogo
que me desnorteia e ateia com tanta intensidade e facilidade.

Sinto o calor da tua pele alastrando e irradiando pelo universo
como um sol que não parece quente, mas afinal queima
tal como brasas, esquecidas e adormecidas entre as cinzas
que anestesiam os sentidos, extasiados e direcionados
à nossa lareira íntima, aconchegante, em polvorosa e excitante.

A tua alma em chamas, inebriada, trespassa o escuro do quarto
cruzando céus turvos e mudos e atravessando chuvas
desfazendo-se num arco-íris inovador, surreal, um aparato
deixando cintilar a minha noite como a aurora boreal
luz dos sonhos que em mim soletras, acordas e despertas
brilho do teu olhar, arriscado, indecente, mas que parece cordato.

O teu sorriso e a tua boca descortinam e desatinam o meu corpo
centro de gravitação e agitação, morada onde te recebo
de famintos e absintos braços, que me suscitam e instigam
ao encontro dos teus, infinito, delimitado, desesperado
na longa espera de ti, soltando-se odores de jasmim no ar
entontecendo-me e enlouquecendo-me, de imediato, ao chegares.

Irei rececionar-te de corpo todo aberto, escancarado e descarado
permitindo-te penetrar em mim sem qualquer sussurro
com a firmeza e dureza do teu caule, incêndio do teu espírito
que nos implora, sacode, consome e devora pela noite fora
onde te apoderarás de mim como esconderijo até à eternidade
abrigo que enalteces e onde fenecerás de livre e espontânea vontade.

Hoje, esta noite, irás possuir-me, sentir-me e tomar-me como tua
como se o meu corpo fosse secreto e nunca por ti aberto
lugar de loucuras e aventuras lascivas, incríveis e permissivas 
qual terra brava e imaculada, que se abre à sementeira
nesse prazer de te ter, pertencer-te, algo particular, só meu
onde serei consumida e extinguida como fogo em selva trancada
como água que a sede mata, mas inexplicavelmente não farta
uma dependência, um vício que o corpo suplica, exige e tanto precisa.

Esta minha pele com estes sinais escurinhos, levianos, moreninhos
deixam a tua alma à toa e o teu corpo em reboliço, é feitiço
que te demonstra não teres mãos suficientes para me reteres
nem corpo, nem pujança razoável para possuíres tudo
tudo aquilo que eu sou e que querias tanto abarcar e ficar
mas mesmo assim, aconselho-te a manteres a firme esperança
de conseguires ter de mim, um sinal diferente, de luz
uma lembrança viva, fincada e exclusiva, da minha passagem por ti.

Quem sabe lá! O mundo dá tantas voltas, assim afirma toda a gente
mas nada é para sempre. Não desistas! Continua a amar-me
a insistir na conquista, usando todas as armas mais que previstas
pois a tua princesa, como me chamas com ternura e noção
pode ser que, um destes dias, perca o jeito, a palavra de rainha
e entre na tua teia, tão bem urdida e merecida, e deixe lá o coração.


CÉU

domingo, 7 de fevereiro de 2016

PERGUNTA

Usa-me, abusa, besunta-me, lambuza-me e suga-me
como se eu fosse uma fruta muito sumarenta
fresca, melosa, paradisíaca, pegajosa e saborosa
elixir único e desconhecido da longevidade
e juro-te que farei de tudo, mas mesmo de tudo
para te entumecer e enlouquecer de tanto, tanto prazer.

Chega-te mais para perto, mais próximo de mim, assim
esbanja, desanca sem hesitares a tua boca na minha
na horizontal, perpendicular, vertical, tanto faz
estrangula a sede dos teus lábios nos meus
faz gargarejos lentos com os meus beijos
morde-me a ponta da língua, inteira, com avidez
entrelaça-te nela, prende-a e trava-a, de vez
para esmiuçares cada papila gustativa e sensitiva
como o teu corpo, a tua libido, suscitam e incitam
desacelerando e aliviando todos os teus caprichos e vícios.

Suplico-te que com voz rouca, contaminada e desidratada
me sussurres, me murmures palavrões aos ouvidos
até que eu fique de rastos, sem noção e tonta
pronta para a festa, para a orgia principesca
que queremos exuberante, olímpica e extravagante
em que Prometeu roubará, então, o fogo a Zeus
para o entregar a nós dois, seres mortais e imorais
sendo tu Apolo e eu Vénus, com a mais estrondosa certeza.

Faz de mim gato sapato com tirania e espantosa soberania
engole-me o fôlego todo, todo, de um trago só e largo
lambe-me os mamilos assomados, desmiolados e eriçados
provoca-me arrepios, gemidos, ais e gritos incontidos
que eu prometo, e juro-te a pés juntos, ser só tua
nem que seja por uma noite, momento de todos os tempos.

Rasga, estraçalha, despedaça o lençol de cetim branco, doce
onde há tanto te espero, guardada, intocável, embrulhada
e logo que obtida a ação, percorre-me todinha com as mãos
consola e rola pelo meu corpo nu, como se fosses água
tateia e saboreia tudo aquilo que encontrares e desejares
desce ao meu recetáculo floral, faminto e transcendental
onde as sépalas e as pétalas se agitam, contorcem e gritam
pelo teu estame rijo, fértil, providencial e descomunal
e aí, nesse lugarzinho, estaciona para mais me humedeceres
usando a língua, todos os teus dedos, sei lá, tudo o que quiseres.

O ideal será que abras todos os lábios da minha corola vistosa
até encontrares o botão das sensações, algo fundamental
onde imploro que te demores, por favor, agradecida
até que ele trema, se agite, vibre, se excite e suplique
o teu manto branco, tão espesso e abundante, um encanto
que se entrelaçará, pegará e misturará com a seiva dele
em batimentos e vaivéns ao natural, como é humano e soberano.

Continua, que já percebi que sabes mexer com os meus sentidos
bastando um toque teu para que fique molhada e inundada
com a mente confusa, perdida, obtusa, desmemoriada
obcecada por tudo o que tu tenhas e que de ti venha
sob as mais diversas formas, sobretudo as menos próprias
que me extasiam, acalmam, roubam-me até a alma e viciam-me.

Como és homem a valer, aproveitas esta minha irrelevante loucura
passeando, deslizando, treinando o teu falo pela minha boca
que fica desvairada, de todo destrambelhada, a aluada
quando experimenta, prova o sabor e inspira o odor
atividade que jamais pensou pôr em prática, fazer e satisfazer
todavia no amor e na vida, e como bem sabes, tudo pode acontecer.

Enquanto isso, tu ascendes e atinges logo e rapidamente o paraíso
não precisando já de mais nada, pois estás de barriga aviada
ficando eu no aquém, mas tu, eu sei, nem deste por nada
tendo-me visto, só, como uma escrava devotada e sem memória
que nunca fui nem sou, mas antes alguém muito diferente
que deseja que encontres em mim todas as formas de amar
todas as outras mulheres, que um dia fizeram parte da tua história.

Eu sou a adição, subtração, a divisão e multiplicação de todas elas
uma operação totalmente fora do vulgar e difícil de alcançar.
Aceitas ou queres ainda pensar?


CÉU

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