sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

MENINO JESUS


Numa noite de inverno gélida, mas condescendente
tive um sonho fenomenal e transcendental
em que vi o Menino Jesus descendo do Paraíso
enquanto atirava beijinhos às estrelas e cometas.
Veio, de mansinho, pelos beirais do caminho
saltando, correndo, brincando com as ervinhas
fazendo que as puxava e até as arrancava
mas de maneira tão distinta, divina e tão diferente.

Vejam lá bem! Ele tinha-se escapado do firmamento
e como Grandioso, Supremo e Misericordioso
não se podia fazer passar por alguém
embora representasse a génese de toda a gente.
Como criança, achava o céu, sorumbático
onde lhe eram permitidas pequenas travessuras
mas, ao mesmo tempo, tinha de ser adulto
e essa de uma vez por ano ser pregado na cruz
simbolicamente, como todos nós sabemos
não lhe agradava nadinha, pois representava tortura.

Em contrapartida, Ele até tinha dois pais e uma mãe
um, de nome José e carpinteiro de profissão
outro, de nome Deus, fazedor de tudo
e Sua mãe, de nome Maria, jovem e sem mácula
que O deu à luz, com amor, miraculosamente.
Todavia, tudo isto era confuso para a Sua cabecita
que preferia ignorar, descontraidamente
embora soubesse da Sua maravilhosa e santa História. 

Então, o marotinho e quando Deus estava repousando
e todos os santos, ao redor Dele, também
foi à arca segredeira dos milagres
por mera brincadeira, como se dela necessitasse
e olhando à Sua volta e à socapa, tirou três.
Com um, fez com que ninguém soubesse da Sua fuga
com outro, fez-se para sempre, Homem-Menino
e com o terceiro, fez um Cristo, em forma de escultura.

Depois, sem pensar nem hesitar, foi visitar o astro rei
pedindo-lhe boleia, e aí veio Ele, contente
no primeiro raio de sol, que apareceu.
Maravilhado com os lugares por onde ia passando
observou um lugarejo, numa peneplanície
onde viu uma casinha branquinha, que era a minha.
Bateu à porta, mas o malandrito escondeu-se
para ver a minha reação, ou com medo de um sermão.

Lógico que não fiz tal, antes abri a porta de par em par
sorrimos um para o outro, embevecidos
ficando Ele para sempre lá a morar.
Senti-me tão feliz, pois já tinha com quem brincar
falar disto e daquilo, enfim, desabafar
pois Ele era o melhor de todos que eu conhecia!
Riso leal e celestial, mas um tanto irrequieto
pois quando nós brincávamos à apanhada
não sei como Ele conseguia ou que poder possuía
que sabia sempre onde eu estava. Era Jesus, eu sentia!

Era tão fraterno, que fazia que já não podia correr mais
só para eu sair vaidosa, feliz e vitoriosa
alegrando-me e premiando-me.
Vou revelar-vos! Adora chapinhar nas poças de água 
atirar florinhas coloridas às menininhas
diverte-se, enxotando os animais que vai encontrando
mas como criança, fica medrosa e até chorosa
se algum deles lhe ladra ou se assanha.
Sugeri-lhe que atirasse pedrinhas aos bicharocos
pois, seguramente, eles fugiriam a sete pés, como loucos.

Pegar na pedrinha Ele pegou, e até, docemente, a atirou
só que ela voou longe e não lhes acertou
transformando-se em boa comida.
Ora, a bicharada ficou sarapantada, mas deliciada
e correndo para Ele, saltaram em alvorada
gerando-se ali tamanha confusão, melhor, bendição
acompanhada de raios de luz, sem igual
que deixaram cair pétalas enluaradas e muito perfumadas.

Nas nossas conversinhas, Ele sabe e domina as matérias
de uma forma eloquente, simples, inteligente
mas, aqui entre nós, tenho de dizer-vos
que Ele, por vezes, faz queixas pequeninas do Pai
que não o deixa fazer disparates, extrapolar
mandando-O, em vez disso, amar o Seu semelhante
dar aconchego a todos, uniformemente
e se necessário, dar a vida pela Humanidade, sem recuar.

Ele mora na minha casinha branquinha, como já afirmei
e é a criança, o Deus que faltava na minha vida
que me acompanha para toda a parte
protegendo-me de toda a maldade, abençoando-me.
Com uma das Suas mãos, ampara-me
e com a outra, salvaguarda tudo o que existe
para que nada falhe, nem ninguém sofra no mundo.
Eu sei que há situações, que não entendemos
pois Ele é perdão, compaixão e salvação
mas, tenho a certeza, que Ele é o Menino Jesus do Amor.

Vocês não sabem, não imaginam, como nos damos bem
quer em casa, quer na rua, ou em outro lugar
porque Ele está sempre pronto a ajudar
a desculpar os erros dos outros, a redimir, a perdoar
sem nada pedir, sem rotular, nem afastar.
Ah, como me sinto bem, compreendida, idolatrada
e quando Lhe falo dos erros dos Homens
das maldades, das inúmeras atrocidades cometidas
Ele lamenta e tem pena de tudo isto
mas diz-me que a situação é temerária, mas temporária.

Quando Ele se deixa dormir, adoro deita-lo e embala-lo
contar-lhe historiazinhas lindas, de encantar
que sei que as ouve e as conhece de olhos fechados
pondo nelas, todavia, muita atenção.
Aí, sinto o meu instinto maternal a evidenciar-se
sabendo que Ele dorme dentro do meu peito
e quando acorda durante a noite, nem faz birrinha
antes se diverte a aumentar e a baralhar os meus sonhos.

Pretendo fazer-te um pedido, meu adorado Menino Jesus!
Posso dizer o que desejo, amado Senhor?
Quando eu morrer, pega-me ao colo, como eu Te fiz
e transporta-me para a Tua casa universal
onde todos, mas todos, cabem
retira as vestimentas do meu ser bastante cansado
deita-me na Tua caminha e embala-me
até que nasça aquele dia, que somente o Teu Pai sabe
e conduz-me à eternidade, numa nova terra
onde reinem a harmonia, o entendimento e a alegria
onde todos sejam irmãos, de facto!
ASSIM SEJA, SENHOR DEUS! PAI-NOSSO, AVÉM MARIA!


CÉU



NOTA: este poema foi inspirado no de Alberto Caeiro, "Poema do Menino Jesus".

sábado, 12 de novembro de 2016

FINALMENTE

Estamos, tu e eu, esta noite, e finalmente, frente a frente
para o encontro há tanto sonhado.
Os nossos olhos afagam os nossos corpos
e desvendam segredos e anseios
que desejamos imensamente dizer um ao outro e satisfazer.
 
Aproximas-te e embaraças-te no meu corpo impertinente
beijas o rosado dos meus lábios
e quando sentes da minha parte, pressão
afastas-me, sentido, mas decidido
como que a querer demonstrar-me, que não tens pressa.
 
O desejo arrebatador, o nosso, deve manter-se à distância
no ritmo ideal de seiva controlada
estar no ponto, disse-te, com subtil firmeza.
Afastaste-me, de novo, com ligeireza
mas, por artes e manhas, o meu vestido foi caindo ao chão.
 
Viste, então, pela primeira vez, os meus seios redondinhos
que apalpaste com as mãos
enquanto que os seus mamilos assomados
despertaram em ti vontades múltiplas
de os esfregar, os amarrotar e esmagar, sumptuosamente.
 
Mas não, não o realizaste, ao contemplar bem o meu olhar
antes os acariciaste, suavemente
usando a língua e os lábios semicerrados
e eles, ávidos, deixaram-se beijar
enquanto o meu corpo frouxo, se entregava, entusiasmado.

Com as minhas duas finas mãos, tentei erguer-te a cabeça
para, reconhecidamente, te abraçar
mas tu resististe a esta agradável tentação
e continuaste a circular com a língua.
No entanto, e como que por artes mágicas
caíste de joelhos, a meus pés, já não dando para aguentar.

Calcorreaste-me, de alto a baixo, e nem um só poro faltou.
Beijaste-me a adoraste-me os pés
as pernas, as coxas, as virilhas, que lambeste
e pressionaste-me para que afastasse as pernas
e te deixasse olhar a gruta, com estalactites e estalagmites.

Paras, e começas a analisar e a radiografar bem o meu olhar
como que pedindo autorização para a penetração
mas agora sou eu quem te agarra a cabeça
puxando-te para cima, beijando-te sofregamente.
Agora sim! O beijo é mais demorado e mais aprofundado
e a minha língua gosta de ser provada e aprisionada
na tua boca, que a sabe saborear e refrescar
de maneira que, não se importa nada de para lá se mudar.

Abraçados e embrulhados, ambos rolando um pouco às cegas
acercámo-nos, bem rapidamente da cama
onde me deitaste de costas, idolatrando o meu corpo
até que o cobriste de beijos e carícias duplicadas
às quais não resisti, permitindo que fizesses de mim
uma mulher ainda mais ardente, esfomeada e destrambelhada.

Tomei agora o comando e beijei-te, de novo, mas por etapas
e fui descendo, lenta, como que a castigar-te
pelo tempo que me fizeste, por vingança, esperar
e quando entendi e me apeteceu, pus os meus lábios
na glândula rosácea do teu apetitoso sexo
com jeito, sensibilidade, extraordinária perícia e sensualidade.

Beijei-a e saboreei-a, demoradamente, e quase fiquei parada
humedecendo-a e refrescando-a com a língua
retardando o inevitável apogeu, o clímax.
O prazer subiu-te pelo corpo, e eu, vingativa, não parei
e com a língua e os lábios semicerrados
abracei o estame que massajei, lenta e velozmente
e que ameaçou deitar fora o gozo há tanto tempo embalsamado.

Esforçaste-te imenso, eu sei, notei, para que tal não sucedesse
e vendo eu a tua excitação, doida, incontrolada
com o firme e sagrado propósito de retardar a entrega
subi ao teu corpo, encavalitando-me, sem rede
e com cuidado extremo, máximo, embora demasiado lento
para o nosso estado de convulsão
fui encaixando, de forma tépida, o teu androceu no meu gineceu.

Uma flor ainda apertada, quente e húmida, mas tão motivada
o que denota, que estava pronta para te acolher.
O ambiente da minha casa e do quarto, em particular
ajudou toda a ação, a entrega e a doação
e eu tinha tido o cuidado de preparar o cenário
colocando, de propósito, laços vermelhos nos candeeiros
o que dava aos nossos contornos, luxúria
umas velas de aromas da natureza, diversificados
e tudo isto associado a uma viril música ambiente. É indecente!

Os nossos corpos identificaram-se, logo, logo, um com o outro
falaram a mesma Língua, mesmo sem falarem
e comportaram-se como se conhecessem há muito
numa onda de à-vontade e espontaneidade.
A luz da lua espreitou e penetrou por entre os cortinados
acelerando ainda mais a excitação e desejo
e tu como criança, cavalgaste em mim, inconsequentemente
puxando as rédeas, pronunciando ais roucos e loucos
e eu ajudando à festa, apertei as tuas nádegas com as mãos
beijei, lambi o teu rosto suado, cansado, mas aliviado
enquanto, se fez ouvir, um suspiro prolongado
enchendo de luz, excitação e satisfação, este e muitos mundos.


CÉU

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

QUEM DIRIA?

Imagino-te nu, acariciado por um lençol de linho
que perfumas com o odor da tua pele.
Paralisas-me, tiras-me a vida, por momentos
mas sorris e eu atrevo-me a sonhar e a avançar.
Enquanto o faço, mordo os meus lábios
já desidratados de desejo.
 
A pouco menos de um metro de distância de ti
pareço que estou a percorrer o infinito
numa encenação dramática, que não sei parar.
Não desviando o olhar, atrais-me, inclemente
como polo positivo atraí o negativo
desarmando-me o raciocínio. 
 
A um passo da cama, puxas-me, abruptamente
e caímos os dois num beijo prolongado
lindo e há tanto esperado. Já o merecíamos.
Arrepias-me com as tuas mãos frias, dementes
tirando-me a roupa, que estraçalhas
espalhando-a pelos cantos.
 
O cenário não podia ficar mais tórrido e calórico
quando numa atitude de adolescente
atiras as minhas roupas pequeninas e íntimas
para a lareira, que crepitava como nós.
As chamas, dela e nossas, inventaram cores
que sublimaram as do arco-íris.
 
O apetecer e o prazer estavam já criados, agitados
os corpos abriam-se, cediam à tentação
suados e encharcados, roçavam-se um no outro
fazendo desatar um furacão de ternura
enquanto os móveis, os quadros e os retratos
abriam a nossa fome desordeira.
 
Isso, pouco ou nada nos importou, nem atrapalhou
pois queríamos viver o momento único.
Quantos cabelos meus foram afagados, puxados
pelas tuas mãos ansiosas e impiedosas?
Quantas promessas, quantas juras de loucura
fizemos arrebatados de paixão?
 
Quiseram-se então estilhaçar num ápice, no clímax
em que os gemidos agudos, lânguidos
deram continuidade às cinzas da nossa entrega.
Nada mais existia. Ficámos cegos de amor
naquele jogo de sedução, cumplicidade e doação
jurando por Deus, a eternidade.
 
Amor, estou pronta! Envolvida num lençol de linho
guardo no pescoço o colar que me deste
naquele dia, do nosso primeiro e único encontro
adornando com ele a minha pele.
Não mo tires! Rogo-te, suplico-te! Não me deixes!
Deixa-me voltar a mim, a ti!
 
Dizes que já me não amas e até que me esqueceste.
Quem diria? Peço-te, então, um favor!
Repete, repete lá isso, em alto e bom som
para eu acreditar, meu amor!
 
 
CÉU

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

SIM!

Naquele quarto, iludido, paraíso onde preparei a noite
dei pela tua entrada, silenciosa, desejosa, conivente
de respiração prudente, ou melhor, quase ausente
enquanto o coração parecia querer saltar-me do peito
fugindo, trepando, galgando, esmagando-me a boca
que travou aquele insubordinado e tarado, a tempo
com um engolir prolongado, tão seco e descontrolado
que decerto metia dó e faria piedade a toda a gente
encostando-me, eu, por instinto, à parede alarmada
no cantinho mais recôndito e menos acessível da porta.

E agora? O que me espera? O que farei?
Não importa! Estou prestes a reencontra-lo
naquela magia tântrica dos meus olhos
e na loucura sadia da minha cegueira.

Com o tato penetraste e violaste o escuro. Achaste-me.
Não falaste, mas ouvi a tua voz no meu corpo todo
no mais comunicativo, doce e convidativo silêncio
que se soltou ao toque dócil e tórrido das tuas mãos
habituadas, sabedoras, experientes, conhecedoras.
Vem! Não tenhas receio, disseste, muito baixinho
incitado pelo desejo, tão desorientado e desidratado
e a tua respiração, tão perto da minha, pobrezinha 
sentia-a, obtinha-a, guardava-a, comia-a, possuía-a
sem ao menos dar a entender, sugerir, avisar ou pedir.

E se eu avançasse um passo? Seria bom?
Hum! Quero descobri-lo de olhos fechados 
embora de sentidos já desacostumados
destas movimentações e destas lides.

Beijaste, seguraste as minhas mãos frias com as tuas
aumentando, gradualmente, o livre aperto, o cerco
e quando já quentes, aninhaste-as numa das tuas
e com a outra, observaste linhas visíveis e invisíveis
as teias, formas de relevo e o pulsar das veias.
Permaneci quietinha, não ousando retirar as mãos
liberta-las, dar-lhes inteligência e independência
mas, também não saberia bem o que fazer com elas
com o corpo e com a cabeça, assim, tão trouxa-mocha
no entanto, os pensamentos tinham orientação e vastidão.

Estás calma? Estou! Continuo a confiar em ti.
Confusa? Talvez! Sinto vertigens e náuseas
como quando sou apanhada de surpresa
por algo excelente, que não espero. 

Conduziu as minhas mãos ao seu corpo inteiro, primeiro
percorrendo com elas o que estava saliente, quente
e eu, de repente, dei-lhes liberdade incondicional
como as aves fazem às crias, quando já sabem voar
sem raciocinar, sem prever consequências, sem parar.
Toquei-lhe e afaguei-lhe os lábios, já descolados
fiz uma festa leve no queixo e nas faces acaloradas
ascendi-lhe aos olhos, fiz tranças das suas pestanas
contornei-lhe, atrevida e enlouquecida, as sobrancelhas
acetinadas, chamativas, esfomeadas, desamparadas
e penetrei os seus cabelos com dedos ingénuos e ternos.

Um rosto aprazível? Sim, de homem perene.
Pele vincada? Um bocadinho, mas muito cuidada.
O cabelo menos farto, mais sedoso e curto
tal como o imaginava e desejava.

Enquanto lhe desbravava e conquistava o sereno rosto
ele, descontroladamente, deu um passo em frente
descendo-me as mãos pelos braços e antebraços
parecendo querer afagar e apreciar cada átomo meu
numa química paranormal, única e transcendente.
Embrulhou-me os ombros, desceu lentamente às axilas
continuou a suave caminhada pelo tórax e abdómen
que, de tão acariciado, se tumultuou, abriu e revelou
e travando-me na cintura, que como prostituta, se deu
sem quês, nem porquês, sem pensar e sem sequer hesitar.

Não sabia eu que o meu peito era tão arfante!
Ah, quanta perturbação! Mais êxtase e excitação.
Os gestos, os murmúrios daquelas carícias
desconcentraram-me e motivaram-me.

Puxou-me para ele devagarinho e abandonou-se em mim
mantendo-me atada, presa e escravizada pela cintura
ficando eu a sentir o seu corpo inteiro, todo, uma doçura
enquanto as minhas mãos hábeis souberam, intuitivamente
como atuar, as tarefas a cumprir e sobretudo fazer sentir.
Assim, desceram-lhe pela nuca e massajaram-lhe as costas
repousando nelas, alguns momentos, e depois no peito
que senti estremecer ao alisar os pelos louros e espaçados
tal como dantes, quando a camisa de linho desenvolta
se abria, despudoradamente, assim, tão livre, louca e solta.

Tenho de agradecer ao escuro daquele quarto
por ser impossível ver as vontades do meu olhar
o rubor, os desejos, ah, tanto furor em mim
que ele sentiu, sem luz, mesmo assim.

O meu corpo, inteirinho, maluquinho, estava alerta, agora
pois os estímulos eram enviados, recebidos e captados
com uma racionalidade, que era mais que animalesca
enquanto a perceção, por contacto, ia-me tomando
poro a poro, causando-me fomes e anseios arrasadores.
Senti-lhe um leve tremor das mãos e eu tremi em sintonia
fechando os olhos, fervilhando num arrepio, abrasador
deixando eu fugir, sem querer, um gemido brando e tanto
estremecendo, quando ele me beijou e chupou os seios 
num gesto, quase loucura, mais que devaneio, todo procura.

Continua com um corpo bonito, como dantes
e nem eu mesma sei como consigo resistir a isto
pois a carga dos sentidos é tão devastadora
que receio deixar de pensar. Receio!

Comportei-me, como dantes, como outrora.
Não fui capaz, não consegui ser senhora de mim.
Mas, quem resiste a tanto chamamento, ora?
Se estiver inanimado, ah, pois, só assim!

Com o seu rosto subtil, tocou, afagou e lambuzou o meu
e os seus lábios, rosados, carnudos, fartos e ousados
delinearam todos os meus contornos, mas que perfeição
incendiaram a minha pele e apanharam-me a boca, a jeito
num beijo que a fechou e que quis aprofundar e prolongar.
Uniram-se, cruzaram-se e fundiram-se os cheiros e sabores
transpirações, intenções, amores passados e respirações
que, finalmente, se libertaram e se explicaram, sem demora
regressando o encanto daquela voz, que tantas vezes ouvi
roubando-me, espontaneamente, um grande e convicto sim
guardado na garganta, há muitos, muitos anos, enclausurado.

Não faz mal, não tem importância, dissemos!
Já nos conhecemos há tanto tempo. Continuaremos!
A voz dele, rouca, do ex. cigarro companheiro
trespassou a minha, num efusivo beijo.


CÉU 


domingo, 26 de junho de 2016

MORTE PEQUENA

Sem eu saber lá muito bem de onde vinha
aquele cálido soprar, aquele bafejar
nos meus cabelos, no rosto e no corpo
que o recebia, o aquecia e crescia
ao contacto intenso e galopante do teu
num estado eufórico, louco.
 
Um encontro doce e de indescritível prazer 
tonificado, já em pedra, solidificado
viril, destemido, de rompante, abusivo
desordeiro, mas afável e seduzido
pela agitação e excitação do meu corpo
contra o teu, quase fogo.
 
E queres e apoderas-te logo, logo de mim
tomando, perseguindo, conseguindo
o achar, o realizar do ponto de encontro
sonhado, desesperado, prometido
e o beijo com que me enlaças a boca
ah, sabe-me a pouco!
 
As mãos ávidas, que queimam as roupas
abrem veredas, matas, estrelas
e os olhos olham-se, falam, chocam-se
e tu ensinas-me o caminho, guias-me
nesta força, neste impulso forte, convexo
estendendo a passadeira vermelha
escancarando todas as portas ao sexo
já a babar-se, tão frouxo!

Conheço, sei de cor, os teus íntimos sinais
os gemidos, os gritos e os ais
a voz, a tua voz, querendo, exigindo
mais, sempre mais e mais
e a tua língua dominadora e guiadora
levando-me, pouco a pouco.

Finos e fortes perfumes, odores e sabores
e falo erguido, pronto, incontido
meu amor, vem, minha língua dançarina
ao teu render, quase vindo
em avalanches, pérolas e brilhantes
espessos, de muco, de ouro.

Manobras-me, manuseias-me, dobras-me
como flor breve, à mercê, leve
nas tuas mãos, desfalecendo, morrendo
e segues o vento, quente
num voo despótico, sensual, erótico
e quando paras, és beijo rouco.
 
E eu em delírio, febre, subindo, trepando
e tu em mim, feliz, naufragando
e tu em mim investindo, alagando-me
e eu usufruindo e gostando
até que as palavras, os uivos, os gritos
aconteçam da morte pequena.
 
E depois e logo de seguida, e sem parar
as coordenadas dos sentidos
contorcem corpo e alma, em espasmos
em estrofes brancas e bordadas
que inventei e escrevi com o teu sémen
escorrendo devagar, aliviado
pela vegetação e botão da pradaria
que estremece e se agita e enlouquece
de prazer fundo, extenso, profundo
e somos só dois, nós, tu e eu
jazendo ali, anarquizados e sagrados
fazendo o amor deste e de outros mundos.


CÉU 

terça-feira, 7 de junho de 2016

AMO-TE!

Espero-te por entre os silêncios escuros da noite 
entre sombras e luzes, físico alvoroçado
lugar onde te descaro com a minha silhueta
abrindo-te o meu mundo, inteirinho
que o teu corpo absorve, delirando de vida
num beijo inesquecível e prolongado
que a minha boca te oferta sem contrapartidas.

Vens mansinho e devagarinho, como uma brisa
escondendo-te por entre as árvores
esperando que o sol parta e a noite se faça
passas pelos meus cabelos esvoaçantes
demorando-te neles, acariciando-os, famintos
nas danças das tuas mãos sem coreografia
treinadas, no entanto, em matérias de anatomia.

O céu já turvo, resolveu preencher-se de estrelas
e do nada fiz-me corpo tagarela, sem trela
encostando os meus seios hirtos às tuas costas
enquanto as tuas mãos me procuram
imaginando-me colada a ti, mais que feitiço
interiorizando toda a tua essência
engrandecendo-me e conduzindo-me ao paraíso.

Tocares-me será sempre miragem enternecedora
em que o teu corpo clamará pelo meu
nesse deserto injusto e intruso da nossa vida
e beberes-me será a melhor água fresca
que nasce neste aprazível oásis, a minha boca
e beijares-me será apenas um sonho
na polpa dos teus lábios ávidos, urgentes, carentes.

Não penses e entrega o teu corpo ao meu, assim
saboreando cada toque, cada vontade
e na música, os nossos corpos comprimem-se
fusão de curvas, retas e concavidades
exigindo o inevitável orgasmo, materializado
num ápice indescritível e invisível
que nos faz prolongar o instante para a eternidade.

Amo-te na existência material de ti e de mim
na ausência permanente, evidente
como ar abençoado e louvado, moldado
fazendo-me purificada, sagrada e imaculada
onde sou estátua, de sumptuoso olhar
utopia, amor, paixão, sentimento e doação
flor que exala o seu perfume e lume no tempo certo.

Amor é, como sabes, muito mais que tudo isto
é a pura forma de querer concretizar
de desejar-te e sentir-te em mim, sempre
e ter eu a certeza, e tu a convicção
que podem vir ventos, temporais, vendavais
a terra pode até mesmo terminar
que hoje, amanhã, depois, para sempre, serei, tua.


CÉU

sábado, 21 de maio de 2016

ACORDA COMIGO, AMANHÃ!

Entrega-me todas as partes, claras e escuras, desse teu corpo
desencarcerando, alforriando e saciando essa vontade
e deixa-me pesquisar, mergulhar e saborear essa tua boca
esses lábios carnudos, rosados, infiéis e tão ousados
que me provocam agasturas e sede, patologias sem rede e cura.

Vá lá, faz o que te digo! Tira peça por peça, assim, sem pressa
interessa-te, arremessa-te, cobiça e atiça a minha cama
que é de ferro, frio e resistente, ao contrário de mim e de ti
e não tenhas receio de te enroscares na minha língua
de te drogares e viciares em afagar, lamber e chupar a minha pele.

Mesmo que isto te pareça um desvario do período pré-ovulatório
revelando, maior desejo de sexo, quem saiba, sem nexo 
exalando uma sedução descarada, irresistível, desavergonhada
não te questiones, nem reprimas, e muito menos te domes
antes toca, acaricia, desenvolve, avança e prova, exaustivamente.

Sei que sou aquela que te conduz e transporta a voos irreverentes
a monopólios de carícias, gosto e gozo, ainda por inventar
aquela que consegue alvoroçar a tua tranquilidade e serenidade
a que faz detonar e rebentar os teus preceitos e preconceitos
que são só fogo de vista, como tu muito bem sabes, falso moralista.

Pretendo, então, assistir ao espetáculo da libertação do teu desejo
escorrendo, abundantemente, pelas tuas coxas e pernas
enquanto eu vou rasgando e estraçalhando o teu aparente medo
que vai cair por terra, inevitavelmente, ora, homem, pudera
pois és igualzinho aos outros, em atuação, e a ocasião faz o ladrão. 

Eu tenho sonhado, de olhos abertos e despertos, e andado por aí
até que toda a tua pele, escorregadia, apetecível e luzidia
se rebele e se amotine, transpirando loucura, frémito, ternura
mostrando-me os teus sinais mais recatados e privados
que desejo e exijo trincar, morder, beijar e degustar, efusivamente.

Talvez julgues, não ser este o momento mais sensato e apropriado
por não saberes se estou, se vivo sozinha ou acompanhada
mas, não penses nisso, pois sou prudente, recatada e decente
de tal maneira, que te desafio a bateres à minha porta
entrando e deixando que te tire a roupa, sem quaisquer cerimónias.

Permitido, realizado e consumido o ato, verás que sou uma senhora
diva, mulher, imperatriz, deusa, ninfa, meretriz e cortesã
que te pergunta, de imediato, a bebida que queres ou preferes
à qual a tua boca já não é capaz de escolher e responder
libertando-se do teu pensar e olhar a frase: acorda comigo, amanhã!

Antes de dizer já que sim, tenho de revelar-te que tenho alucinações
de todo transcendentais, sobretudo à noite, insólitas e fatais
que sou caçadora de astros, como estrelas, planetas e cometas
que sei estarem guardados para mim, no céu da tua boca
fazendo eu coisas terríveis, para os obter, agindo pior que uma louca.

Então, e depois desta minha revelação e confissão, aceitas a situação?


CÉU

segunda-feira, 21 de março de 2016

ASSALTO À MÃO DESARMADA

COMEMORA-SE, HOJE, DIA 21 DE MARÇO, O DIA MUNDIAL DA POESIA. EIS A MINHA PARTICIPAÇÃO!

Palavra de honra, afirmo, juro que eu não sabia de nada
tinha acabado de chegar a casa, era já noite cerrada
estava a despir-me, apressada, mas sossegada
para me pôr à vontade, sem espartilhos e desafogada
preparando-me para o apetecível e aprazível banho 
quando senti alguém meter uma chave na porta de entrada.

Fiquei muda, em pânico e pensei que só podia ser ladrão
que de maneira sofisticada, profissional, na perfeição
se preparava para tudo me roubar e até me violar
e eu sozinha neste casarão. Meu Deus! Que aflição!
Encostei-me bem devagarinho à parede e baixei-me
para tentar resguardar-me do perigo e do misterioso vilão.

Enquanto ele caminhava, lento, eu nem sequer respirava
pois tinha receio que ele pressentisse o meu bafo
chegando, dessa forma, mais depressa a mim
pondo em risco o meu corpo e a minha vida, decerto
que tanto adoro, valorizo, aprecio, que desejo e prezo
e ser assaltada, daquele modo, era algo que não desejava.

Aproximou-se do meu cantinho, esconderijo do meu céu
que vasculhou, sorridente, carinhoso e paciente
até que me achou, me tomou, me abraçou e beijou.
Fiquei sem ação, perturbada, calada e assustada
pois era ele, vindo de longe, outra vez, asseguro-vos
para me raptar como à bela Cinderela dos contos de fadas.

Nua, deitada no peito dele, sentia-me bem, mas tremia
não sei se de pavor, fascínio, medo ou amor
e só de estar a falar, a relembrar este caso verídico
sinto a invadir-me, de alto a baixo, um arrepio
que me entusiasmou, embora com receio no momento
mas que já não consegui fazer parar ou disfarçar, a tempo.

Como o chão do meu quarto era soalho e não atapetado
ele foi tirar do roupeiro mantas boas e quentinhas
para me tapar e aquecer, deixando assim eu de tremer.
Gostei do gesto e fiquei emotiva, devo confessar
pois ele continuava a ser o mesmo amante maravilhoso
com atitudes que ficam bem e que serão sempre de louvar.

Pouco a pouco, o meu corpo foi aquecendo e cedendo
deixando que ele partilhasse as mantas comigo
que, tão bem, nos conheciam, sabiam e entonteciam
ficando ali, em comunhão, naquela fogueira
que nos ia amolecendo e derretendo, corpo e alma
numa cedência doce, sem reservas, com mútuas entregas.

Com requinte e distinção, atributos que já lhe conhecia
afastou-se do vulcão, que o conduziria à erupção
dirigindo-se à banheira circular por ele pensada e usada
mergulhando nela, sem emitir sequer um murmúrio
para não dar a entender o que iria ali acontecer
porque conhecia muitíssimo bem a minha maneira de ser.

Do sítio onde estava, espiava toda a sua movimentação
os cuidados exagerados e os bons sais utilizados
numa exacerbada sensibilidade, luxúria e sensualidade
não ficando um nique da sua apetitosa anatomia
sem ter sido visitado e revisitado e muito bem lavado
na água perfumada, que o banhava, alindava e excitava.

Sossegado e reclinado, olhou-me de flor rubra na mão
atitude pensada, pois, preparação e provocação
que me começava a intrigar, a questionar e a irritar
pois, desconhecia o que ele tinha maquinado
mas talvez me estivesse a convidar para o banho
não, não houve nem um sinal para tal. Que estranho!
Fingindo ignorar a cena, saí do quentinho e fui desanuviar.

Ao meu primeiro passo, saiu da banheira, assustado
barrou-me o caminho, pegando-me ao colo
afagando-me e percorrendo-me da cabeça aos pés
sem hipóteses de eu proferir algo ou agir
porque guardou a minha boca na sua, com firmeza
como ave de rapina obtendo, mantendo indefesa a presa.

Estava criado o cenário para uma entrega completa
que me aliciava, que nadinha, eu recusava
pois a minha mente já não pensava e só desejava
e o meu corpo, vontade, anseio, fogo posto
abriu-se e acendeu-se ao dele, em combustão viva
bem mais intensa e resplandecente, que o luar de agosto.

Sem que eu desse por isso, colocou-se atrás de mim
deslizando as mãos hábeis pela minha pele
o maior órgão do corpo, inflamável, mas agradável
de forma ressabiada, treinada, provocante
mas, eu, a descarada, digo-vos, não me fiz rogada
esquecendo, de todo, a honestidade, o rigor e a decência.

Ele, que já nem me via, nem ouvia, quase em coma
avançou em contramão, naquela excitação
que não conhecia regras e sinais, e não obedecia
num desabrido rodopio, de cor, um desvario
que lhe deu para fazer perícias com os meus seios
mostrando que era um exemplar e experiente condutor.

Pôs à volta dos meus mamilos, hirtos e enrijecidos
doce de tâmaras e frutas tropicais e orientais 
sabendo que gostava que me enfeitasse e provasse
num jogo de fatal sedução, afetos e paixão
convidando-me a uma orgia, bacanal bilateral, magia
fazendo-me vítima desrespeitada, mas que desejava folia.

Que jogo tão bem explanado no tabuleiro ressabiado
onde não faltou a minha fértil imaginação
pois sabia que podia ser atriz, senhora e meretriz
e assim alcancei-o pela boca, que louca
pondo a minha língua a travar para que não falasse
atitude que não compreendeu, ficando perdido, alarmado.

Para salvar isto, aproveitei para beijá-lo e sufocá-lo
descendo pelo seu corpo todo, excitando-o
até que ouvi os primeiros gemidos, suspiros, gritos
tal como o produto espesso, sem corantes
que tanto ansiava que, apenas uma vez, provasse
suplicando-me que eu naquela noite, o experimentasse.

Aflita, não o desejando dececionar, acedi ao pedido
de uma forma indireta, fugindo à tradicional
e pus as mãos sobre o seu baixo ventre
que já estava em rebelião e tamanha ereção
massajei, melhor que profissional, de seguida agitei
o seu falo e zonas circundantes, que exigiam
iniciando calmamente, e logo a seguir, velozmente
enquanto olhava os seus olhos fechados
sentindo-me personagem principal, decisiva, afinal
e como tal, assisti à inundação nunca vista, paranormal.

Passados alguns instantes, acendeu os olhos vivos
deixando transparecer barriguinha cheia
e puxou-me para cima dele, de forma selvagem
beijou-me e sujou-me toda, o tonto
dizendo que o mundo podia acabar naquela hora
porque sentira o melhor momento da sua vida
com a mulher única, maravilhosa, doce, perfeita e eleita.


CÉU

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